Polícia prende 20 suspeitos de furtar e desmanchar mais de 50 caminhões para venda de peças no RS
11/09/2025
(Foto: Reprodução) Polícia prende suspeitos de furtar e desmanchar caminhões para venda de peças no RS
A Polícia Civil cumpre, na manhã desta quinta-feira (11), mais de 80 ordens judiciais contra uma organização criminosa suspeita de um esquema "em escala industrial" de furto e desmanche de caminhões para venda de peças em cidades do Rio Grande do Sul. No total, 20 pessoas foram presas até a publicação desta reportagem, que está em atualização.
Mais de 50 caminhões foram furtados pelo grupo ao longo de dois anos, de acordo com a Polícia Civil. Antes do desmanche, a polícia também descobriu que os criminosos tentavam extorquir os proprietários dos caminhões (veja mensagens abaixo). Os valores chegavam a até R$ 100 mil.
"Olha, eu tenho o seu caminhão aqui. Você pode resolver isso de duas formas: ou paga o que eu estou pedindo e você tem seu caminhão de volta inteiro, ou a polícia vai encontrar ele só em pedaços", ameaçava um criminoso em uma das conversas por telefone obtidas pela polícia.
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Preso suspeito de fazer parte de organização criminosa que furtava e desmanchava caminhões para venda de peças RS
RBS TV/Reprodução
Os suspeitos conseguiam desmanchar um caminhão inteiro em até 12 horas. De acordo com o delegado Gabriel Lourenço, responsável pela investigação, "a organização funcionava como uma verdadeira empresa do crime".
"Com departamentos especializados, hierarquia rígida e procedimentos operacionais padronizados que permitiam furtar, extorquir e desmanchar caminhões com eficiência industrial", conta.
Empresas de transporte tiveram que contratar seguranças privados, instalar rastreadores mais sofisticados e alterar rotas para evitar a organização criminosa. Caminhoneiros autônomos que, segundo a polícia, "sustentavam famílias inteiras com um único veículo", perderam a fonte de renda.
No total, são cumpridos 28 mandados de prisão preventiva e 54 mandados de busca e apreensão em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Viamão, Gravataí, Canoas, Guaíba, Porto Alegre, Capão da Canoa, Tramandaí, Portão, Alvorada, Sapucaia do Sul, Mariana Pimentel, Santa Maria.
Mensagens enviadas por criminosos suspeitos furtar caminhões e extorquir dinheiro de vítimas no RS
RBS TV/Reprodução
Investigação
O esquema foi descoberto em setembro de 2023, quando uma denúncia anônima levou policiais militares até um galpão localizado em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
No local, os policiais surpreenderam três pessoas suspeitas desmanchando um caminhão. O veículo estava com a placa adulterada. O mesmo foi constatado em outro caminhão que estava no galpão. Um carro que já havia sido visto sendo usado em crimes também estava no local e foi identificado. Havia ainda um reboque e diversas ferramentas especializadas para desmanche.
Ainda em setembro, outro galpão usado pela organização criminosa foi encontrado em Gravataí. Estava no local um caminhão que seria desmanchado.
Os criminosos fugiram, mas um deles deixou para trás um telefone celular que ajudou a Polícia Civil a entender como os criminosos organizavam o esquema.
Caminhões desmanchados por criminosos que furtavam veículos e extorquiam vítimas no RS
RBS TV/Reprodução
O esquema
A Polícia Civil identificou quatro chefes do esquema e outros 15 executores. Eles operavam da seguinte forma:
Identificação dos alvos
Membros da organização ficavam em postos de combustível, especialmente ao longo da BR-116 e da RS-122, observando caminhões que carregavam mercadorias valiosas. Ração animal, materiais de construção, produtos eletrônicos e cargas em geral eram os alvos preferenciais.
Quando identificavam um alvo, os criminosos fotografavam e filmavam o caminhão. As imagens eram compartilhadas via WhatsApp com os chefes da organização, que analisavam a viabilidade da operação considerando rotas de fuga, horários de movimento e presença policial na região.
O furto
Equipes de dois ou três criminosos se aproximavam do alvo usando as "chaves micha" fabricadas por um dos chefes do esquema. Essas chaves especiais eram capazes de dar partida em qualquer modelo de caminhão, eliminando a necessidade de arrombamento ou danos visíveis ao veículo.
Durante a ação, outros membros faziam "campana" em pontos estratégicos, alertando sobre qualquer aproximação policial através de mensagens instantâneas.
Extorsão
Após o furto, as vítimas recebiam ligações telefônicas dos membros especializados em extorsão. Os valores exigidos variavam entre R$ 5 mil e R$ 100 mil, dependendo do modelo do veículo e do valor da carga.
Os criminosos se apresentavam como "profissionais" que preferiam "resolver tudo de forma amigável", desencorajando as vítimas de procurar a polícia.
"É melhor você não envolver os caras porque aí complica para todo mundo", dizia um criminoso, em uma das conversas interceptadas. "Eu tô nessa há muito tempo, meus piás fazem o que eu mando, então é melhor a gente conversar".
Os pagamentos eram feitos através de transferências bancárias para contas de terceiros ou, em alguns casos, entregues pessoalmente em locais combinados.
O Desmanche
Quando as vítimas não pagavam o "resgate" ou quando a organização decidia que era mais lucrativo vender as peças, os caminhões eram levados para os galpões de desmanche.
O galpão descoberto em Viamão, por exemplo, funcionava 24 horas por dia. Os criminosos conseguiam desmanchar completamente um caminhão em menos de 12 horas. Cada parte era catalogada e separada: motor, câmbio, diferencial, cabine, chassis, pneus, bateria, sistema elétrico.
O processo era sistemático e incluía a adulteração completa da identificação dos veículos. Placas eram trocadas, números de chassi eram raspados e substituídos, e até mesmo a pintura era alterada para dificultar qualquer tentativa de identificação posterior.
Receptação
A organização tinha uma rede de receptadores em cidades do RS. Em Guaíba, por exemplo, um empresário seria o responsável por redistribuir as autopeças para oficinas e revendedores em toda a região metropolitana.
Organização criminosa suspeita do furto e desmanche de mais de 50 caminhões para venda de peças é alvo de operação da polícia no RS
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